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23/04/2013

- Atualizado em 23/04/2013 14h08 ‘Nenhuma expectativa de confissão’, diz promotor sobre júri de Bola

Henry Wagner chamou ex-policial de 'matador experimentado'.
Ele também disse que outras pessoas devem ser denunciadas.

Raquel Freitas e Pedro Cunha Do G1 MG

Promotor Henry Wagner conversa com a impresnsa no fim do primeiro dia de julgamento do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola (Foto: Pedro Cunha / G1) 
Promotor Henry Wagner conversa com a impresnsa no fim do primeiro dia de julgamento do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola (Foto: Raquel Freitas / G1)
Ao deixar o Fórum de Contagem, nesta segunda-feira (22), o promotor do caso Eliza Samudio, Henry Wagner Vasconcelos de Castro, disse que não acredita que o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos confesse participação na morte da ex-amante do goleiro Bruno Fernandes durante o julgamento. “Nenhuma expectativa de confissão. Imagine se um matador experimentado, um matador profissional... Se ele iria em algum caso concreto se assumir como tal. Se ele se assumisse como tal, as pessoas que já se valeram dos serviços dele em outras situações entrariam em um tal estado de instabilidade, de insegurança que de certo ele colocaria em risco a própria sobrevivência”, afirmou o promotor.
 

(A partir de segunda, dia 22, acompanhe no G1 a cobertura completa do julgamento do caso Eliza Samudio, com equipe de jornalistas trazendo as últimas informações, em tempo real, de dentro e de fora do Fórum de Contagem, em Minas Gerais. Conheça os réus, entenda o júri popular, relembre os momentos marcantes e acesse reportagens, fotos e infográfico sobre o crime envolvendo o goleiro Bruno.)

Henry Wagner também avaliou como “proveitoso” o primeiro dia do júri popular de Bola, em que a delega Ana Maria Santos foi ouvida por cerca de seis horas. Ele disse ainda que a defesa do réu atua de modo “massante” em plenário e que esta forma de condução dos trabalhos é um “tiro no pé”. “Gera em torno de si, da parte dos jurados, uma significativa antipatia, pois muito perceptível que grande parte das indagações dirigidas pela defesa à doutora Ana Maria tiveram víeis estritamente argumentativo”, criticou.

Questionado sobre o trabalho dos delegados na fase de investigações, o promotor afirmou que “a Polícia Civil, em princípio, fez tudo que estava ao seu alcance para o desmascaramento de uma sequência de fatos criminosos de extrema complexidade”. Entretanto, segundo Henry Wagner, com o passar o tempo, o olhar sobre o processo tende a se ampliar, referindo-se a possível participação de outras pessoas, além dos réus, na morte de Eliza Samudio.

O promotor disse que espera o fim das investigações complementares para fazer uma “única e última denúncia que conglobe todos os demais possíveis envolvidos nesta trama diabólica que culminou na ocultação do cadáver de Eliza”. Henry Wagner afirmou ainda que “muito provavelmente” haverá mais pessoas denunciadas, além do policial Gilson Costa e do policial aposentado José Laureano de Assis Filho, o Zezé. Ele não revelou, porém, quem seriam estas pessoas nem qual seria a participação delas no crime.

Primeiro dia
A juíza Marixa Fabiane Lopes encerrou a sessão desta segunda-feira (22) por volata das 22h30 no primeiro dia de julgamento do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, acusado de matar e ocultar o cadáver de Eliza Samudio – ex-amante do goleiro Bruno Fernandes – após o depoimento da Delegada Ana Maria Santos. A policial falou no Fórum de Contagem por cerca de seis horas como informante a pedido da defesa. Ela participou das investigações do caso na época do inquérito policial.

Ana Maria afirmou que Jorge Luiz Rosa – primo do goleiro Bruno Fernandes, e adolescente na época do crime – disse em um dos depoimentos que o executor de Eliza seria branco, "patolinha", com falhas nos dentes e responderia pelo apelido de Neném.  Segundo a delegada por medo, Jorge deu outra descrição do executor de Eliza quando ouvido no Rio de Janeiro, dizendo que era pessoa "alta e negra". "Ele disse que o fizera porque estava com medo", relatou a delegada. O medo, conforme ela, era do executor de Eliza.

Segundo a delegada, os olhos do primo de Bruno ficavam lacrimejando durante o depoimento. "Não raras vezes, conteve o choro ao falar do momento da execução", disse. Ela ainda afirmou que Jorge estava tranquilo e lucido no depoimento. "Eu reafirmo, ele [Jorge] me transmitiu  muita credibilidade, ele foi bastante detalhista”. Jorge foi ouvido pela primeira vez no Rio de Janeiro e depois em Contagem, ambas na época em que o crime foi descoberto e começou a ser investigado. O primo de Bruno foi o primeiro a falar que Eliza Samudio estava morta.

O depoimento da policial também foi marcado por questionamentos de um dos advogados de Bola, Ércio Quaresma, sobre a investigação policial e o trabalho da Polícia Civil. Como o não indiciamento do policial civil aposentado José Lauriano de Assis Filho, também conhecido como Zezé, e investigado pelo Ministério Público por participação no crime. Ana Maria afirmou que os elementos não eram suficientes para indiciar Zezé. "Isso aqui foi fraude, nós vamos provar", diz o advogado segurando o relatório do inquérito.

Vários objetos apreendidos durante a investigação foram expostos no plenário: algo parecido com um tapete, um travesseiro, facas, embalagens de produtos de higiene infantil, cheques e cartões em nome de Luiz Henrique Romão. Havia também notebooks e um envelope fechado onde estava escrito a palavra cabelo. Até mesmo uma arma foi mostrada. Segundo o assistente de acusação, José Arteiro, a arma e outros objetos mostrados durante o júri ficam guardados no cartório e foram expostos a pedido da defesa.

A sessão desta segunda-feira (22) durou cerca de 13 horas. Os trabalhos começaram durante a manhã, onde foram ouvidas as preliminares da defesa de Marcos Aparecido dos Santos e da promotoria. Após um intervalo para almoço, o Conselho de Sentença foi definido: quatro homens e três mulheres julgarão o ex-policial pelos crimes de assassinato e ocultação de cadáver de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno Fernandes – já condenado pelos crimes.
Antes disso, a juíza Marixa Fabiane indeferiu pedidos da defesa para desconsiderar a certidão de óbito de Eliza Samudio e de adiamento do julgamento pela ausência de duas testemunhas: a delegada Alessandra Wilke e de Jorge Luiz Rosa, primo de Bruno.
 
Os três filhos e a mulher de Bola acompanham a sessão no Tribunal do Júri de Contagem. O réu aguarda em um cela no fórum e ainda não foi chamado pela juíza Marixa Fabiane Rodrigues, que preside o júri.
O início dos trabalhos também foi marcado pela ausência de uma testemunha, José Cleves, que precisou ser localizada por um oficial de Justiça. A juíza determinou que ele fosse buscado em casa e considerou a falta como "um absurdo". O depoimento das testemunhas deve ser iniciado na tarde desta segunda-feira (22).
Júri
 
Sete jurados decidirão o destino do réu no Fórum de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG), no júri presidido pela juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues. A previsão é que o julgamento dure três dias, segundo o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Bola está preso desde 2010, acusado de ser o executor da jovem. Uma propriedade dele, em Vespasiano (MG), foi um dos locais vaculhados pela policia.

Bola seria julgado em novembro do ano passado, porém, no primeiro dia do júri, seus advogados abandonaram o plenário e ele se negou a ser representado por um defensor público. Depois disso, teve seu julgamento desmembrado.
O ex-policial ainda responde pelo desaparecimento, tortura e morte de duas pessoas, em Esmeraldas (MG), em 2008, e pelo assassinato de um homem em 2009, em Belo Horizonte. Em novembro de 2012, ele foi absolvido, da acusação de ter assassinado um carcereiro no ano 2000, em Contagem.
Segundo o Ministério Público, nove acusados, sob ordens de Bruno, participaram do sequestro e desaparecimento de Eliza Samudio, entre eles o amigo Macarrão e uma ex-namorada do goleiro, ambos condenados em novembro. A acusação contra uma pessoa foi arquivada. Para a Promotoria, o jogador, que atuava no Flamengo, arquitetou o crime para não ter de reconhecer o filho que teve com Eliza nem pagar pensão alimentícia. Conheça todos os réus.

No dia 8 de março, o goleiro Bruno Fernandes foi condenado a 22 anos e 3 meses de prisão em regime inicialmente fechado por homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, asfixia e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima), sequestro e cárcere privado e ocultação de cadáver. A pena foi aumentada porque o goleiro foi considerado o mandante do crime, e reduzida pela confissão do jogador.
Conforme a denúncia, Eliza foi levada à força do Rio de Janeiro para um sítio do goleiro, em Esmeraldas (MG), onde foi mantida em cárcere privado. Depois, foi entregue para o ex-policial Bola, que a asfixiou e desapareceu com o corpo.
O bebê Bruninho, filho de Eliza e de Bruno, que foi achado com desconhecidos em Ribeirão das Neves (MG), hoje vive com a avó em Mato Grosso do Sul. Um exame de DNA comprovou a paternidade.
Além do ex-policial, dois réus ainda vão ser julgados separadamente. No dia 15 de maio, vão a júri Elenílson Vitor da Silva e Wemerson Marques de Souza. Sérgio Rosa Sales, primo de Bruno, foi morto a tiros em agosto. Dayanne Rodrigues, ex-mulher do goleiro, foi absolvida durante o julgamento em março.
Investigações
 
A polícia encerrou o inquérito com base em laudos que atestam a presença de sangue de Eliza em um carro de Bruno, nos depoimentos de dois primos que incriminam o goleiro, em sinais de antena de celular e multas de trânsito que mostram a viagem do grupo do Rio de Janeiro até Minas Gerais e em conversas de Eliza com amigos pela internet, nas quais relata o medo que sentia.
Eliza também havia prestado queixa contra o atleta quando ainda estava grávida, dizendo que ele a forçou, armado, a tomar abortivos. Ela ainda deixou um vídeo dizendo que poderia aparecer morta se não tivesse proteção.
Apesar de os primos de Bruno terem alterado as versões, os depoimentos devem ser usados pela acusação no júri. Um deles, Jorge Luiz Rosa, adolescente à época, já cumpriu medida socioeducativa por atos análogos a homicídio e sequestro. Ele foi o primeiro a delatar o goleiro, confessando ter ajudado Bruno a levar Eliza ao sítio. O jovem contou que a vítima foi entregue a Bola e que ele presenciou a morte. Dias depois, negou tudo.
 O jovem, hoje com 19 anos, voltou a falar em entrevista ao 'Fantástico' neste ano. Ele disse que não tinha como Bruno não saber que Eliza seria morta.
O outro primo, Sérgio Rosa Sales, ajudou na reconstituição do crime, mas foi morto com seis tiros, em agosto deste ano. Ele também chegou a desmentir as acusações contra o goleiro, mas, em uma carta enviada por ele aos pais, incluída no inquérito, relatou ter sofrido ameaça de outros advogados para alterar o depoimento. À época, o advogado de Bruno, Francisco Simim, negou qualquer pressão.

 

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