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03/10/2011

Posto de gasolina durante o dia, ponto de tráfico à noite

Nossa Senhora do Carmo.Jovens de classes média e alta compram drogas no pátio, à vista dos funcionários


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A área é uma das mais nobres e movimentadas de Belo Horizonte. Mas nas noites de quarta a domingo, um quarteirão do bairro São Pedro, na região Centro-Sul da cidade, ganha uma outro ingrediente. Em meio ao vai e vem de motoristas em busca de bares e boates, a venda e o consumo de drogas ocorrem de forma indiscriminada. Um posto de gasolina na avenida Nossa Senhora do Carmo é o ponto de partida do esquema que segue também pela rua Major Lopes.
Moradores e frequentadores da região se sentem vulneráveis mesmo sabendo que, a poucos metros do ponto de tráfico, há uma companhia da Polícia Militar. A corporação informou que o patrulhamento no local será intensificado.

O movimento começa a aumentar por volta das 23h, quando a área do posto de gasolina na avenida Nossa Senhora do Carmo fica tomada de carros. Não há preocupação de boa parte dos condutores e seus acompanhantes - a maioria de classes média e alta - em comprar combustível ou algum produto da loja de conveniência. Eles estão ali atrás de drogas, principalmente, maconha e cocaína - vendidas por jovens traficantes, vindos em sua maioria, do aglomerado Morro do Papagaio.
A movimentação segue pela madrugada e foi acompanhada pela reportagem de O TEMPO, que esteve no local por três noites. Em todas elas, verificou a sutileza das negociações que, para muitos desavisados, passam despercebidas. Alguns traficantes e usuários tratam de valores e locais de entrega das drogas pelo telefone celular. Muitos se aproveitam da escuridão do lava-jato e da privacidade dos banheiros do posto para o repasse das drogas.
O comércio é feito na presença dos funcionários e de clientes do estabelecimento. Aqueles que participam das negociações têm um vocabulário próprio. "Você tem um?", pergunta um rapaz a um traficante, pressionando o nariz com os dedos polegar e indicador, sugerindo cocaína. O "vendedor" pede, então, que o cliente o acompanhe até a rua atrás do posto.
Os guardadores de carro da rua Major Lopes, próxima ao posto, contribuem para manter o esquema e, muitas vezes, fazem a conexão com os frequentadores de boates na região, formando uma espécie de complexo do tráfico. "É comum o motorista dar duas voltas no quarteirão para evitar chamar atenção e depois pegar a droga", conta um jovem.
Quem mora ou trabalha na região conhece e testemunha a movimentação criminosa. "Geralmente, os playboys chegam aqui mesmo para comprar drogas. Todo mundo aqui sabe como funciona o esquema", afirmou um morador, que pediu para não ser identificado.
Na balada

Carro. Outra reclamação comum entre moradores e comerciantes da rua Major Lopes é a alta incidência de roubos de carros durante as noites, em especial nos fins de semana e perto dos

bares e casas noturnas.
FOTO: Léo Fontes

Movimento no local é constante e se intensifica no fim da noiteLéo Fontes

Movimento no local é constante e se intensifica no fim da noite

Histórico

"Tráfico aqui existe há 25 anos", diz funcionário

Segundo um funcionário do posto instalado na avenida Nossa Senhora do Carmo que pediu para não ser identificado, o local é usado para o tráfico de drogas há pelo menos 25 anos. O homem conta que a Polícia Militar já foi acionada por diversas vezes, por clientes e até mesmo funcionários. Mas que, em todas elas, a resposta foi superficial e ficou sempre na promessa de mais rondas. "Temos até câmeras de segurança, mas a única coisa que mudou é que agora ficamos assistindo a tudo", conta.
Um morador conta que pediu à polícia a instalação de uma guarita na praça ao lado do posto para manter o policiamento em tempo integral e, assim, afugentar traficantes e usuários. "A gente queria levantar dinheiro para isso, mas nenhuma providência foi tomada", contou o morador, que confirma que o tráfico no local não é recente. O dono do posto foi procurado pela reportagem, sem sucesso.
Um comerciante da região afirmou temer que a má fama do posto de gasolina prejudique seus negócios, espantando a clientela. "O fluxo de pessoas aqui na região existe por causa das boates na rua Major Lopes. Já pensei em mil coisas para tentar mudar a fama daqui, mas nada dá resultado", desabafa o comerciante. (RRo)
PM pede que morador denuncie

Mesmo com os flagrantes e os relatos de moradores e comerciantes, o comandante do 22° Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Ricardo Machado, afirmou desconhecer o tráfico de drogas na região. "Os moradores e comerciantes têm que nos comunicar via 181 ou 190, pois nós não temos essa informação (de tráfico no local)", disse.

Sobre a intenção de moradores de instalar uma guarita nas proximidades, o militar informou que seria inviável. "Até eu gostaria de ter policiamento perto da minha residência, mas nem sempre é possível", disse. De qualquer maneira, o comandante prometeu que agora irá intensificar as abordagens nas proximidades do posto. A assessoria do batalhão informou que flanelinhas foram presos recentemente na região por porte de droga. (RRo)

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