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04/05/2012

Moradores sofrem assédio ilegal nas ruas da capital

Vendedores de empréstimos e cartões burlam a lei e oferecem serviços pela cidade de Belo Horizonte

Cristiano Couto
Assédio
Pedestres são abordados por funcionários de financeiras que tentam "seduzi-los"


"Dinheiro na hora!" ou "Vai um cartão de crédito aí?". Com essas palavras, centenas de belo-horizontinos são abordados e têm direitos afrontados, diariamente, no hipercentro da capital. A Lei Municipal 10.042/10 proíbe a interceptação de pessoas nas vias e nos passeios públicos para a oferta de empréstimos e cartões, mas algumas financeiras se aproveitam da falta de fiscalização para driblar a regra nas proximidades da Praça 7, induzindo desavisados ao endividamento.

A equipe do Hoje em Dia percorreu ruas e avenidas do Centro de BH, na última quinta-feira (3). Não foi difícil encontrar exemplos de afronta à lei, em vigor há quase um ano e meio. Os pontos mais críticos são a avenida Afonso Pena e a esquina das ruas Carijós e Curitiba. Os vendedores de empréstimos, em geral bem-vestidos e com boa lábia, fazem a abordagem no passeio ou na porta de agências financeiras. Muitas vezes, a negociação começa na própria calçada.

Um dos flagrantes do desrespeito foi em frente ao número 784 da avenida Afonso Pena. Dois homens, que não usavam uniforme, entregavam panfletos e ofereciam empréstimos aos pedestres. A dupla admitiu conhecer a proibição, mas confessou que é comum financeiras burlarem a norma. "Se a fiscalização aparece, a gente tenta despistar", disse um dos funcionários.

A secretária Fabrícia Riquetti, de 34 anos, foi abordada na rua e reclama ser alvo do incômodo sempre que passa pela principal avenida de BH. "A lei existe, mas não há fiscalização. Se a pessoa for muito humilde ou pouco esperta, corre o risco de fazer um empréstimo sem perceber".

Perto dali, no número 924 da Afonso Pena, três vendedores uniformizados cercavam pedestres e tentavam "puxar" clientes em potencial para dentro de uma financeira. A equipe do Hoje em Dia foi até o local, mas não conseguiu falar com o responsável pela agência, que estaria em reunião. Telefones de contato foram deixados com funcionários, mas, até o fim da tarde, a empresa não se manifestou.

Na esquina das ruas Carijós e Curitiba, o cenário é pior. Dezenas de jovens com pranchetas nas mãos oferecem cartões de crédito e empréstimos a todas as pessoas que passam em frente a uma loja de roupas femininas.

Uma gerente da empresa, que não quis se identificar, diz que as vendedoras não são funcionárias do estabelecimento e que, desde que a lei entrou em vigor, a oferta de cartões é feita somente dentro do estabelecimento. "Os nossos (funcionários) são uniformizados. Os que estão lá fora chegam até a correr atrás de nossos clientes, quando eles saem da loja", afirmou.

Nem a presença de policiais militares intimida a interceptação contínua. As vendedoras chegaram, inclusive, a reclamar que a presença da equipe de reportagem poderia "atrapalhar" o trabalho delas.

Maria Regina Corrêa, de 63 anos, foi seduzida pela promessa de dinheiro fácil. Ela foi ao Centro de BH para uma consulta com o dentista, mas voltou para casa com uma dívida de R$ 2 mil. O valor, mais os juros, será descontado da aposentadoria dela, em 24 vezes. A mulher tem outro empréstimo e disse que precisa do dinheiro para pagar reparos em casa. "Falaram que as condições eram boas e eu precisava resolver meu problema", afirmou.

Tags:  assédio imoral ruas BH financeiras crédito dinheiro
 

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