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17/09/2011

Mansão de Pelé sofreu dois atentados na ditadura militar, mostram arquivos

Ídolo nacional ganhou ficha no Dops por receber pedidos de ajuda a presos políticos

Jornal Hoje em Dia
Nem o maior herói nacional escapou dos binóculos do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), o destacamento da polícia que no regime militar vigiava qualquer pessoa que fizesse oposição à ditadura.

Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, tem sua própria ficha em meio aos 11,6 mil prontuários que foram encontrados por acaso depois de 25 anos nos fundos do Palácio da Polícia de Santos, litoral paulista, em março de 2010.

Restaurados pelo Arquivo Público do Estado de São Paulo, esses documentos já podem ser consultados pela população.

A pasta de Pelé tem poucas páginas: principalmente recortes de jornal e boletins de ocorrência sobre dois supostos atentados à sua mansão em Santos, ambos em 1973.

A primeira ocorrência relata uma explosão no jardim de sua casa à 00h20 do dia 26 de agosto de 1976. A polícia encontrou destroços de chumbo espalhados pelo quintal. Aterrorizada, a primeira mulher de Pelé, Rosemeri Cholbi, correu para a delegacia da cidade para fazer o B.O (boletim de ocorrência), que acabou encaminhado para os arquivos do Dops.

No dia 8 de dezembro daquele mesmo ano, foi a vez de um tiro de revólver disparado às 19h15 estilhaçar a janela da sala de troféus do tricampeão mundial. Rosemeri voltou à delegacia para lavrar um novo boletim. O susto foi tanto que o casal preferiu passar o Natal nos Estados Unidos, segundo o prontuário do rei do futebol.

Segundo o historiador e coordenador do Arquivo Público do Estado de São Paulo, Carlos Bacellar, Pelé ganhou uma pasta no Dops porque “em dado momento de sua vida ele foi contatado por representantes de presos políticos pedindo ajuda para intervir junto ao governo, já que ele era uma pessoa famosa”.

"E tudo indica que ficou nisso, mas por ter sido visto recebendo esse documento, ele foi fichado".

Anistia

Além do jogador, os arquivos de Santos mostram como o Dops vigiou inimigos pesos-pesados do regime, como Frei Betto, o então metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva e os comunistas lendários Luiz Carlos Prestes e Carlos Menezes Marighella. Até Che Guevara tem sua pasta.

Bacellar diz que se assustou com o fichamento de pessoas que não combatiam a ditadura, como Pelé, mas que sua surpresa maior foi notar que, mesmo após a extinção do Dops, em 1983, os agentes ligados à repressão continuaram espionando possíveis opositores.

"Os delegados, policiais e toda a equipe continuaram atuando à moda deles. (...) Todos os órgãos policiais no mundo têm seu serviço de informação, mas para vigiar criminosos. Uma falha do Estado, que não conseguiu extinguir esse serviço completamente, o que causou surpresa (ao então governador paulista) Mário Covas em 1999, quando ele descobriu que ainda era espionado".
Entrevista: Fim do Dops não impediu que agentes da polícia continuassem espionando

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