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26/09/2011

Choro e revolta marcam blitz da Lei Seca em Belo Horizonte

Motoristas vivem madrugada de angústia, ansiedade, choro e revolta diante do bafômetro. Reclamações continuam nos corredores da Delegacia de Trânsito


Flávia Ayer - Jornal Estado de Minas


“O senhor não vai parar de soltar o ar enquanto eu não falar para o senhor parar. Alguma dúvida, senhor?”, instrui o soldado Ribeiro. Aparentando nervosismo, o motorista Ricardo Bruno Teodoro, de 25 anos, enche o peito e sopra o bafômetro. O silêncio impera até o aparelho registrar 0,00mg/l de teor etílico. Aliviado, Ricardo, que voltava da casa da namorada, é liberado e confessa: “Fiquei até em dúvida se não tinha bebido nada mesmo”. E, assim, por volta das 23h de sexta-feira, começa a blitz da Lei Seca, em mais uma caça aos embriagados ao volante em Belo Horizonte.

 
Até quase as 5h, na Avenida Brasil, quase esquina com Avenida Francisco Sales, e depois na Avenida do Contorno, em frente ao Hospital da Polícia Militar, ambos no Bairro Santa Efigênia, na Região Leste, serão muitos dilemas diante do bafômetro. Momentos de dúvida, choro, revolta, alívio e discussão em torno de índices até então pouco conhecidos, mas que se tornam inesquecíveis para condutores flagrados pela Lei Seca linha-dura. Haverá também espaço para descontração, na passagem de um ônibus-boate pela blitz, que, apesar de não ter sido parado, causou furor ao cruzar o bloqueio policial.
Não era nem meia-noite, hora de maior movimento durante a operação, quando 0,37 miligramas de álcool por litro de sangue, registrados no bafômetro, sujaram a ficha de Fernanda Gonzaga, que foi parar na delegacia. A jovem, uma das poucas mulheres que passaram pela blitz, recebeu a notícia com resignação. Com o carro rebocado, de chinelo e abraçada às sandálias salto 15, ela se despediu dos policiais, às 2h da madrugada, antes de entrar na viatura a caminho do Departamento de Trânsito de Minas Gerais. “Foi um prazer conversar com vocês, desculpem qualquer coisa.”
Para quem ainda não tem intimidade com o tema, até 0,13mg/l, o condutor é liberado. De 0,14mg/l a 0,33mg/l, o condutor é multado em R$ 957,70, perde sete pontos na carteira nacional de habilitação (CNH), que é recolhida por três dias, e vira alvo de processo administrativo, com chance de ter o documento suspenso por um ano. A sanção é a mesma de quem não sopra o bafômetro. Acima de 0,34mg/l, o motorista é enquadrado em crime de trânsito. Além da multa e dos pontos na carteira, ele tem o carro rebocado, vai para a delegacia e sai se pagar a fiança, ponto de partida de um processo que culmina com a cassação da CNH.
Mas, na blitz da Lei Seca, tem gente que é preso por outros motivos, como o motociclista Carlos, que viveu, na noite de sexta-feira, uma perseguição policial. Ele tentou desviar do bloqueio formado pela PM, Guarda Municipal e Polícia Civil, entrou na contramão e foi parar na delegacia, por direção perigosa. Uma tentativa de fuga à toa. No teste do bafômetro, Carlos teve índice de 0,12 mg/l, dentro do limite. “Tomei meia garrafa de Cortezano (vermute) antes de sair de casa”, contou o rapaz, que ia a uma festa de funk na Savassi.
Meia garrafa pode?
Os policiais alertam que cada organismo reage de uma forma à ingestão de álcool e, portanto, para dirigir e estar dentro da lei, a orientação é não beber. Mas fato é que o papo sobre miligramas e bebidas rende numa blitz. Uma “taça generosa de vinho”, num jantar em comemoração aos “vinte e tantos anos” de casamento, fez com que motorista de 53 anos, que não quis se identificar, alcançasse 0,19mg/l no teste. Resultado? Processo administrativo nas costas e a necessidade de o filho do casal resgatar os pais e dirigir o veículo. “O Estado quer é arrecadar dinheiro”, disse o condutor.
Dois copinhos de cerveja também fizeram o caminho até o show do Metallica sábado no Rock in Rio ficar mais longo para o engenheiro F.B., de 27, flagrado com 0,21mg/l no organismo. Nervoso, na primeira tentativa em soprar o aparelho o jovem fracassou. “Estou ficando constrangido em soprar isso na frente de todo mundo”, disse o rapaz, que fez o teste atrás da viatura. “Agora, vou ter de ir de avião para o show”, contou, depois do resultado.
O teste também não funcionou para o técnico de enfermagem Anderson Brandão, de 32. Debilitados por uma pneumonia, os pulmões do motorista não foram capazes de lançar ar suficiente no bafômetro. “Não tenho força. Se quiserem, posso fazer o quatro”, disse o rapaz, liberado pelos policiais, sensíveis à situação de Anderson, um dos 63 abordados da operação acompanhada pelo Estado de Minas, que resultou em 10 infrações de trânsito, dois presos, três veículos e duas motos apreendidos, e em algumas vidas a salvo.

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