Greve de professores do Estado continua, apesar de reunião com o Ministério Público, e escolas buscam substitutos
Escolas estaduais que oferecem o Ensino Médio já se articulam para contratar cerca de 3 mil profissionais que vão substituir, provisoriamente, professores que estão em greve. A previsão é de que eles sejam admitidos dentro de três dias, o que levaria os alunos de volta às salas até a próxima terça-feira. A paralisação dos educadores entra nesta quinta-feira (11) no 38º dia, efetivo, descontando férias, fins de semana e recessos.
Na quarta-feira, uma nova tentativa de acordo entre o Estado e o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE) para pôr fim ao movimento, desta vez intermediada pelo Ministério Público Estadual, fracassou. Nova assembleia da categoria está marcada para o dia 16, quando também acontece mais um encontro na promotoria.
No início da semana, a Secretaria de Estado da Educação (SEE) autorizou a admissão de professores em caráter temporário, para que sejam retomadas as aulas do 3º ano do Ensino Médio. O objetivo é minimizar os impactos para os estudantes que vão realizar, em 22 e 23 de outubro, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
A expectativa da SEE é de que a partir de amanhã as atividades recomecem, aos poucos, em cerca de 350 instituições afetadas parcial ou totalmente pelo movimento grevista. No Estado, 2.148 escolas oferecem o Ensino Médio.
A secretária Estadual de Educação, Ana Lúcia Gazzola, acredita que não vai encontrar dificuldades para o preenchimento das vagas. Elas poderão ser ocupadas por professores aposentados, pelos que lecionam outras matérias e até mesmo por profissionais recém-formados.
As contratações seguirão o mesmo procedimento usado atualmente, quando as instituições precisam repor profissionais que estão de licença médica ou férias. O salário oferecido é de R$ 1.320 para professores de nível superior, para uma jornada de 24 horas semanais.
"Depois desta reunião (no Ministério Público) e a manutenção do impasse, a ordem que vou dar às escolas é para acelerar as admissões. Tentamos, durante o encontro, que o sindicato suspendesse a greve ao menos para os alunos do 3º ano, mas eles não aceitaram", diz a secretária.
Na Escola Estadual Ministro Alfredo Vilhena, na Região do Barreiro, a diretora Francis Mares Rosa Costa deu início, ontem, ao processo para a reposição dos profissionais. Há nove vagas em aberto. Hoje, a autorização para a designação dos professores deve ser autorizada. A partir desta etapa, começa o processo seletivo. "Sabemos de muitos professores que estão querendo trabalhar. Inclusive já recebemos ligações de vários que têm intenção de ocupar as vagas", diz a diretora da escola.
Contratação de substitutos divide opiniões
A contratação de professores substitutos para ocupar as vagas dos grevistas que dão aula para o 3º ano do Ensino Médio divide a opinião de pais e estudantes da Escola Estadual Governador Milton Campos, o Estadual Central, no Bairro de Lourdes, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Dos 146 educadores da maior instituição de ensino público de Minas Gerais, 40 aderiram à paralisação. O colégio tem 3.500 alunos.
Embora concorde com o movimento grevista, o estudante Vitor Diniz, de 17 anos, membro do Conselho Colegiado da escola, lamenta a interrupção de parte das aulas, já que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) se aproxima. “A greve é legítima e nem todos os professores estão parados. Mas sabendo que não terão todas as aulas, muitos alunos deixam de vir à escola. Isso é muito prejudicial para quem está se preparando para o Enem”, diz.
Para Vitor, alunos podem não se adaptar à metodologia dos novos professores (Foto: Luiz Costa)
Vitor acredita que os estudantes poderão não se adaptar à metodologia dos docentes substitutos. “É uma medida no mínimo estranha. Como o Governo não tem dinheiro para aumentar o salário dos professores em greve, mas tem para contratar outros para substituí-los? Acho que os alunos vão estranhar novos professores dentro de sala”.
A estudante Letícia Cristina de Oliveira Melo, de 18 anos, só tem no boletim as notas do primeiro bimestre. “Fica difícil concentrar no Enem tendo que preocupar com a reposição de aulas e trabalhos extras. A substituição de professores foi a saída que encontraram. O problema é que, quando os que estão de greve voltarem a trabalhar, eles ficarão perdidos quanto ao conteúdo aplicado pelos substitutos”, ressalta. Hugo Corrêa Neri, de 18, também do 3º ano, reclama dos reflexos da greve. “Está atrapalhando muito e não sabemos se os professores contratados são capacitados”.
A autônoma Ana Lúcia Campelo, de 40 anos, mãe de Vitor, teme pela formatura do filho. “Não sabemos como será no fim do ano. Os alunos têm o direito de se formar”. A solução encontrada pela assistente social Ana Paula Costa Vieira, de 37, foi orientar os sobrinhos Driele, de 18, e Patrick, de 19, alunos do 3º ano, a estudar em casa para fazer as provas do Enem. “É uma faca de dois gumes. Os professores estão certos de lutar pelos seus direitos, mas estamos desesperados com o prejuízo causado aos alunos”.
A inspetora do Estadual Central, Melanie Maria Baeta Pereira, considera correta a decisão do Governo de Minas de contratar professores para substituir os grevistas. Segundo ela, a escola faz levantamentos da carga horária que precisará ser reposta e a previsão é de que os substitutos comecem a trabalhar nesta sexta-feira.
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