Vamos acionar churrasqueira, colocar meninas nadando', diz criminoso.
Objetivo dos criminosos era evitar confronto violento com a polícia

As escutas feitas pelo Ministério Público de São Paulo
com autorização da Justiça revelam o método usado pela facção criminosa
que atua dentro e fora dos presídios paulistas para esconder reuniões
da quadrilha. Em um dos grampos telefônicos, criminosos planejaram
churrasco com mulheres para diminuir o risco de um eventual confronto
com policiais militares. Os churrascos ocorreram.
As gravações obtidas após três anos de investigações do MP sobre a
quadrilha concluíram que o grupo controla 90% dos presídios de São
Paulo. No mês passado, os promotores denunciaram 175 acusados à Justiça e
pediram o isolamento dos 35 principais chefes do bando no Regime
Disciplinar Diferenciado (RDD). Os pedidos foram negados e o Ministério
Público entrou com recurso.
Em uma das centenas de escutas, realizada desta vez em março de 2012,
dois homens em liberdade combinaram a realização de uma festa para
ocultar uma reunião criminosa. Os homens temiam ser traídos por algum
comparsa e queriam a participação de várias outras pessoas no churrasco
para evitar um possível confronto.
"O dia que nós formos fazer essa caminhada (reunião), vamos acionar a
churrasqueira, colocar umas meninas para ficar nadando, uma carnes lá.
Porque se porventura nós formos traídos, e os caras imbicarem na
caminhada (a polícia invadir o festa), nós não vamos morrer truta,
porque tem zé povinho, tem mulher tal, porque senão os caras matam nós
todos", diz um criminoso.
"Os caras matam nós todos e joga armas lá dentro do barato lá, e falam
que nós somos tudo integrantes, tudo com passagem e ripa nós (matam).
Agora pelo menos com churrasco e um monte de mulher aí eles não vão
fazer isso mano. Eu falei essa hipótese de alguma traição, entendeu
amigo, alguma caminhada que já passou. A gente tem que pensar em todos
os ângulos. Não pode pensar que está tudo bem. Não é porque a superficie
está calma que não esteja acontecendo nada nas profundezas", completou o
integrante da facção..
Um homem diz que a polícia tem intensificado ações contra a quadrilha e
cita “o governador”, que estaria incentivando o endurecimento das ações
policiais. "Os caras estão pegando de verdade na capital, sabe por quê?
Estão tendo o aval do governador, truta. É poucas ideias os caras é o
seguinte, estava lendo na reportagem ontem, os caras tiraram a Civil do
comando do crime organizado porque estava tendo muito acerto, várias
caminhadas os caras tiraram a civil e colocou esses caras aí em cima de
nós, entendeu."
Para reforçar a argumentação, um dos criminosos aponta para um
confronto ocorrido em Limeira, no interior de São Paulo, sem detalhar a
data que essa reunião aconteceu. "Vou passar uma notícia ruim para você
agora. Lá em Limeira eles imbicaram. Tentaram matar o irmão lá, rajaram o
carro do irmão", disse o integrante da facção.
Investigações do Ministério Público indicam que a causa da onda de
violência de 2012 na região metropolitana de São Paulo foi desencadeada
por uma operação da Rota, a tropa de elite da Polícia Militar. Em 28 de
maio do ano passado, policiais das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar
mataram seis suspeitos de pertencerem a uma facção que se reuniam no
estacionamento de um bar na favela Tiquatira, na região da Penha, Zona
Leste. Em junho, como represália, 11 policiais foram assassinados.
Segundo a PM, naquela noite de maio os criminosos, que planejavam a
libertação de um comparsa preso, foram surpreendidos pela Rota e
reagiram à abordagem. Todos os seis morreram na troca de tiros. Para a
facção que atua dentro e fora dos presídios paulistas, porém, a operação
policial foi “covarde”.
Uma testemunha denunciou que os policiais levaram um dos suspeitos até a
Rodovia Ayrton Senna e o executaram lá. Essa denúncia levou três
agentes da Rota ao Presídio Romão Gomes, que abriga PMs envolvidos em
crimes. Para promotores ouvidos pelo G1 à época, aquela
ação foi o estopim para criminosos da facção, em busca de vingança,
passarem a executar policiais militares. A Polícia Civil e a PM, por
meio de sua Corregedoria, além da Ouvidoria das Polícias, através de
denúncias anônimas, também apuram essa suspeita. Dos 90 PMs mortos desde
o início do ano até novembro, 62 foram assassinados depois do ocorrido
na Zona Leste.
Segundo interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça, a
informação da execução de um suspeito revoltou a facção. Em 8 de agosto
de 2012, as lideranças resolveram intensificar a resposta nas ruas
contra a ação da Rota e ordenaram os assassinatos de PMs. O "salve
geral", como é chamada a ordem enviada pelos criminosos, determinava a
morte de dois policiais militares para cada integrante da facção que
fosse morto. As execuções passaram a ser feitas por criminosos que não
conseguem pagar a mensalidade da quadrilha.
Organograma
A reunião presencial da facção, combinada em março de 2012, era
necessária para estabelecer, por meio de desenhos, o organograma da
organização criminosa em uma determinada região do estado. O encontro,
supostamente em uma chácara, seria ponto de partida para os criminosos
seguirem para dois outros endereços nos quais os criminosos
transmitiriam ordens a subordinados.
"Esse que é o problema. Eu preciso montar as equipes entendeu, tudo certinho e direcionar. Eu vou levar um cronograma aí para colocar, para mostrar para eles que eles, tá ligado irmão, tem que desenhar a caminhada para ter entendimento", diz o criminoso gravado nas escutas.
"Esse que é o problema. Eu preciso montar as equipes entendeu, tudo certinho e direcionar. Eu vou levar um cronograma aí para colocar, para mostrar para eles que eles, tá ligado irmão, tem que desenhar a caminhada para ter entendimento", diz o criminoso gravado nas escutas.
Força-tarefa
No fim da manhã desta segunda-feira, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin
(PSDB), e o secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira,
participaram de reunião com o secretário da Administração Penitenciária,
Lourival Gomes, o comandante da PM, coronel Benedito Meira, e o
delegado-geral da Polícia Civil, Maurício Blazeck.
Ao sair do encontro, o governador anunciou a criação de uma
força-tarefa
com representantes das pastas e das polícias cujo objetivo é
obter informações de inteligência para facilitar o combate ao crime
organizado.
Alckmin também afirmou que em dezembro devem começar a ser instalados,
em 23 unidades prisionais do estado, bloqueadores de celulares. Segundo o
tucano, os antigos equipamentos eram ineficientes. “Nunca se teve
tecnologia adequada. Ou não bloqueava ou bloqueava [os celulares] de
todo o bairro.”
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