Os laudos do inquérito sobre a morte de uma família de PMs na Vila Brasilândia, zona norte de São Paulo, ocorrida há um mês, não indicam a autoria dos crimes. A opinião é de Fernanda de Almeida Carneiro, advogada criminalista e professora da Escola de Direito do Brasil.
A pedido do UOL,
a especialista analisou as mais de 250 páginas de laudos dos institutos
de Criminalística (IC) e Médico Legal (IML) relativos ao caso. O
material foi disponibilizado à imprensa pela Polícia Civil neste sábado
(7).
A principal linha de investigação da polícia é
que, na madrugada do dia 5 de agosto, o estudante Marcelo Pesseghini,
13, matou a tiros o pai, o sargento da Rota (tropa de elite da Polícia
Militar) Luís Marcelo Pesseghini, a mãe, a cabo da PM Andréia Bovo
Pesseghini, a avó Benedita Bovo, 65, e a tia-avó Bernadete Bovo, 55.
Após cometer os crimes, segundo a polícia, o adolescente foi até a escola dirigindo o carro da mãe. Depois de assistir às aulas, ele voltou para casa de carona e cometeu suicídio.
"Nenhum laudo
afirma isso", diz a advogada criminalista. Para em seguida ponderar.
"Mas tudo leva a crer que realmente o menino foi o autor dos disparos",
opina.
Um dos
documentos revela que não foram encontrados vestígios de pólvora (chumbo
e cobre) nas mãos do estudante. Tampouco acharam resquícios no volante,
no câmbio, na chave do carro da mãe, no par de luvas encontrado dentro
do veículo nem nas peças de roupas usadas pelo adolescente.
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A perita
Cristina Pumeda Crespo, responsável pela análise, escreveu em seu
relatório que o fato de não terem sido encontrados resíduos de disparo
de arma de fogo pode sinalizar duas situações: "Efetiva inexistência de
partículas de chumbo e/ou cobre ou existência de partículas em
concentração abaixo do limite de detectabilidade inerente à
sensibilidade do reagente químico utilizado".
"À primeira
vista pode parecer estranho, mas, conforme o próprio laudo esclarece,
isso não significa que ele [Marcelo] não foi o autor dos disparos",
ressalta Fernanda de Almeida Carneiro.
A advogada diz
que outros fatos apurados levam a crer que o estudante foi quem matou os
pais, a avó e a tia-avó e depois se suicidou. "Não há sinal de
arrombamento na residência; um vizinho ouviu os tiros de madrugada; as
câmeras da rua o flagraram saindo de madrugada com o carro da mãe; ele
teria confessado o crime para amigos", enumera a especialista.
Divulgação dos laudos
Nove laudos e
25 relatórios dos Institutos de Criminalística e Médico Legal integram o
inquérito sobre o caso Pesseghini. A imprensa teve acesso a uma parte
desse material.
A Polícia Civil
disponibilizou 23 arquivos digitalizados com informações sobre análises
feitas na arma e na munição encontradas no local do crime e em
pertences do estudante, entre eles uma camisa com manchas de sangue e
uma mochila achada no lado de fora da casa, que continha papel
higiênico, peças de roupas, uma faca, um revólver, além de R$ 350 em
dinheiro.
Os documentos
também trazem dados relativos aos exames feitos nos corpos da família do
adolescente. O laudo com a análise realizada no corpo do menino não foi
divulgado pela polícia.
De acordo com
os documentos, houve "alteração na cena do crime". Munição deflagrada
foi achada sobre estante da sala da casa da avó do menino. Para o perito
Rapahel Parisotto, que assina o documento, "alguém os achou,
possivelmente os examinou e os colocou sobre o móvel". Ainda de acordo
com ele, "não foram encontrados vestígios que indicassem que os corpos
foram mexidos".
Na quinta-feira (5), a família viu todo esse material mostrado pela polícia. Ainda assim, os parentes seguem não acreditando na tese que aponta o menino como autor dos crimes.
Mais tempo para a investigação
O delegado responsável pela investigação, Itagiba Franco, enviou o inquérito ao Ministério Público na sexta-feira (6) e pediu mais 30 dias para concluir o caso.
"Ainda precisamos analisar melhor os laudos e comparar com os depoimentos", afirmou. Até o momento, 48 pessoas foram ouvidas.
A polícia também aguarda o resultado da quebra do sigilo telefônico da família. Um laudo revela que, antes de morrer, Marcelo Pesseghini ligou dez vezes para uma mesma pessoa. A polícia quer saber de quem é esse telefone.
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