Risco de assaltos preocupa motoristas que trafegam pela rodovia.
G1 percorreu 220 km da parte goiana, que vai a leilão nesta quarta (18).

Na entrada de Cristalina, faixas estão apagadas (Foto: Fernanda Borges/G1)
A BR-050 em Goiás é alvo constante de reclamações de motoristas em razão da sinalização falha em alguns pontos, da falta de iluminação e da quase inexistente cobertura de telefonia móvel em todo o trecho. O G1 GO percorreu nesta terça (17) cerca de 220 quilômetros da rodovia, que vai a leilão nesta quarta-feira (18), conversou com motoristas e constatou que o risco de assaltos é o que mais preocupa quem trafega pela estrada.
Além da parte goiana, todo o trecho da rodovia que corta o estado de Minas Gerais também faz parte do pacote de concessão.
O trecho que vai a leilão em Goiás tem início no entroncamento com a BR-040, em Cristalina,
no Entorno do Distrito Federal, e se estende até a divisa entre Minas
Gerais e São Paulo. Apesar dos diversos problemas relatados, o asfalto é
considerado bom pelos motoristas.

O caminhoneiro Cláudio de Azevedo, de 49 anos, diz que o que traz
preocupação são as faixas que guiam os condutores, que estão apagadas.
“Circulo por toda a estrada, até no trecho de Minas Gerais, e em alguns
locais não dá para ver as sinalizações de solo. Com isso, principalmente
no período da noite, corremos riscos de acidentes. Ainda mais pelo fato
de a estrada ter mão dupla e muita gente tentar ultrapassar em áreas
proibidas”, ressalta.
O G1 também constatou que existem trechos de até
quatro quilômetros, entre Cristalina e o trevo de acesso a Pires do Rio,
que não possuem placas de sinalização.
Já o caminhoneiro Fabiano dos Santos Assis, de 34 anos, que trafega
pela rodovia ao menos uma vez por semana, afirma que um outro fator
causa ainda mais apreensão: a escuridão no período noturno. Segundo ele,
isso faz com que muitos motoristas programem suas viagens para o dia.
“Fica muito escuro e a gente não consegue ver nada. Como não tem radar,
as pessoas não respeitam as leis. Sem contar que não dá para arriscar a
vida
nesse breu todo, ainda mais correndo risco de ser roubado”, conta.
Os assaltos também são citados como frequentes pelo motorista de
caminhão Agerico Murada, de 45 anos. “Eu nunca fui vítima aqui, mas
muitos colegas de empresa já foram alvos de criminosos. O trecho mais
crítico fica nas proximidades de Catalão [região sul do estado], por isso a empresa evita viagens à noite”, diz.
O frentista José Carlos Moura Araújo, de 30 anos, que atua em um posto
na altura do km 141 da rodovia, conta que condutores buscam ajuda no
estabelecimento na tentativa de evitar assaltos. “Como aqui é o único
ponto iluminado no trecho, alguns param aqui e perguntam se é perigoso
seguir em frente. Infelizmente sabemos que é, por isso precisamos de uma
fiscalização maior.”
Procurado pelo G1, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) não se pronunciou até a publicação da reportagem.
Vulnerabilidade
Muitas das reclamações dos motoristas são de conhecimento da Polícia
Rodoviária Federal (PRF). De acordo com o agente R. Lucena, que atua no
posto de Cristalina há oito anos, a região é vulnerável a roubos em
função de rotas fáceis de fuga e da falta de cobertura de
telecomunicações.

Pneus e objetos amontoados à beira da via
podem causar estragos (Foto: Fernanda
Borges/G1)
podem causar estragos (Foto: Fernanda
Borges/G1)
“Existe um buraco negro de telefonia na BR-050, pois o sinal não pega, e
muitas empresas perdem o rastreamento de seus veículos. Com isso, os
criminosos acabam escolhendo a área para agir. Além disso, como existem
muitas acessos a estradas de terra em toda a extensão da rodovia, eles
conseguem fugir rapidamente sem deixar pistas”, explica o policial.
A assessoria de imprensa da Agência Nacional de Telecomunicações
(Anatel) diz que a obrigação de cobertura das operadoras de celular é de
80% da área urbana na sede do município. “Ainda não é obrigatória a
cobertura de zona rural, vilas ou estradas e rodovias”, informa, em
nota.
Fiscalização
O trecho apontado como o mais perigoso da BR-050 em Goiás fica na área
urbana de Catalão. Isso porque o tráfego pesado de caminhões se une ao
dos carros de passeio. Na área, a velocidade máxima é de 60 km/h, mas
nem todos respeitam. “Os veículos de carga sempre correm e fica difícil
para o carro se proteger. Mesmo no trecho urbano temos que ficar
atentos”, afirma o administrador de empresas Rodrigo Souza, de 35 anos.
Nos demais trechos da BR-050, a velocidade permitida para caminhões é
de 90 km/h e para carros, de 100 km/h. Segundo o agente da PRF, a
distância de 200 quilômetros entre as bases da PRF dificulta a
fiscalização na rodovia. “Só existem dois postos, sendo um em Cristalina
e outro em Catalão. Como essa é uma área muito grande para cobertura,
existem abusos”, reconhece.

No km 99, há desnível no acostamento (Foto:
Fernanda Borges/G1)
Fernanda Borges/G1)
Perigos
Não foram visualizados pelo G1 radares fixos ou móveis na estrada no trecho entre Cristalina e Catalão. A equipe de reportagem também
constatou outros perigos. Um deles é a situação dos acostamentos, que
em alguns pontos possuem desníveis altos em relação ao solo. “Nesses
locais, a atenção deve ser redobrada, pois, no escuro, muitas pessoas se
acidentam nessas ribanceiras”, diz o agente da PRF. Prova disso são
cruzes, fixadas ao longo da estrada, que lembram vítimas de colisões.
Outra questão que merece atenção é a quantidade de pneus e demais peças
de caminhões ao longo da estrada. Muitas, de grande porte, representam
riscos aos carros de passeio que circulam no local. Durante o percurso, o
carro da equipe de reportagem foi atingido por um pedaço de
pneu. O
incidente, no entanto, não teve implicações graves.
Uma nuvem de poeira, comum nessa época do ano no estado, em função do
tempo seco, também foi registrada na altura do km 106, sentido Catalão. O
fenômeno é perigoso, pois afeta a visibilidade dos motoristas.
Programa de concessões
O leilão desta quarta será o primeiro de uma série que, nos próximos meses, deve entregar para controle da iniciativa privada um total de 7,5 mil quilômetros de rodovias e mais de 10 mil quilômetros de ferrovias. A abertura dos envelopes com as propostas dos oitos grupos da disputa está marcada para acontecer a partir das 10h, na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa).
O leilão desta quarta será o primeiro de uma série que, nos próximos meses, deve entregar para controle da iniciativa privada um total de 7,5 mil quilômetros de rodovias e mais de 10 mil quilômetros de ferrovias. A abertura dos envelopes com as propostas dos oitos grupos da disputa está marcada para acontecer a partir das 10h, na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa).
Lançado pelo governo federal em agosto do ano passado, o programa de
concessões de rodovias e ferrovias integra um pacote de leilões na área
de infraestrutura estimado em cerca de R$ 500 bilhões em investimentos e
que é tido como a principal
aposta da presidente Dilma Rousseff para acelerar o crescimento da
economia e destravar os investimentos em infraestrutura, logística e
transportes.
No modelo de concessão, o governo transfere à iniciativa privada um bem
ou serviço público por um tempo determinado, podendo voltar atrás se
não estiver satisfeito ou rever ao fim do período de contrato. No caso
do leilão da BR-050, o prazo de concessão para a iniciativa privada será
de 30 anos.
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