Policiais teriam trocado tiros com grupo armado, mas Denilson, pai e irmão dos mortos, contesta versão de militares
Incêndio foi em protesto contra morte de duas pessoas na madrugada deste sábado |
Logo pela manhã, cinco homens armados colocaram fogo no ônibus da linha 4107 (Caiçara/Serra), na Vila Marçola. O veículo estava estacionado no ponto final da linha, atrás do Hospital Evangélico. Nele estavam quatro passageiros, o motorista e o trocador. Ninguém ficou ferido.
À tarde, por volta das 14 horas, pelo menos três homens invadiram um ônibus da linha 9031 (Centro/Nossa Senhora de Fátima) e atearam fogo no veículo. O segundo incêndio ocorreu a menos de 500 metros do local onde foi registrada a primeira ocorrência. Os criminosos mandaram motorista, trocador e cinco passageiros descerem, antes de jogar gasolina e incendiar o ônibus.
De acordo com a Polícia Militar (PM), os atos de vandalismo foram uma reação às mortes do estudante Jéferson Coelho da Silva, 17 anos, e do técnico em enfermagem Renilson Veriano da Silva, 39 anos, mortos por volta das 2h30 de sábado, depois de uma troca de tiros com policiais que faziam ronda na região.
Há duas versões para as mortes de Jeferson e Renilson, filho e irmão, respectivamente, do cabo do 22º Batalhão da Polícia Militar, Denilson Veriano da Silva, 43 anos, que mora com a família no Aglomerado. O tenente Clayton Santana, da Rotam, que coordenava a ação da polícia no local, contou que quatro policiais foram surpreendidos pela madrugada, por um grupo armado de 15 a 20 homens, que usava uniformes da corporação.
“Os marginais estavam vestindo fardas do Gate (Grupamento de Ações Táticas Especiais) e do policiamento de rotina da Polícia Militar”, conta o tenente. De acordo com o militar, Jeferson e Renilson eram os únicos que não estavam fardados. “Eles carregavam a farda debaixo do braço”, disse.
Para o tenente Santana, as fardas encontradas com o grupo armado seriam usadas para matar rivais na luta pelo controle do tráfico de drogas na região. A intenção era colocar a culpa pelas eventuais mortes na Polícia Militar.
No confronto, um policial também teria sido atingido por um tiro no tórax. Segundo o tenente Santana, o soldado Jonas, da Rotam, só não ficou ferido porque o colete à prova de balas o protegeu do disparo de uma arma calibre 32.
“É mentira, o que fizeram com o meu filho e o meu irmão foi uma brutalidade”, disse o cabo Denilson. Segundo ele, os dois estavam voltando para casa quando foram abordados e baleados pela polícia.
Renilson estaria retornando de um plantão no Hospital Socor, onde trabalhava. Jeferson voltava de um baile de pagode na Serra. Os dois foram levados pela PM para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, onde já chegaram mortos. Nenhum morador se apresentou para testemunhar a ocorrência. Os outros homens que teriam participado do tiroteio com os policiais estão foragidos.
Moradores reagiam de forma agressiva durante a passagem de viaturas da Rotam. “Nós devíamos atear fogo nesses carros da polícia. Não vamos parar até vocês darem uma explicação”, gritou para os militares um dos homens que cercavam o segundo ônibus queimado.
As três linhas de ônibus que passam dentro do Aglomerado deixaram de circular no meio da tarde. Moradores da região ameaçam atear fogo em mais veículos caso a polícia não dê explicações sobre a morte do adolescente e do homem baleados na madrugada de sábado nas ruas do bairro.
Policiais são acusados de execução
Moradores do Aglomerado da Serra saíram às ruas e becos para protestar, vaiando e xingando os policiais militares. Uma moradora, que preferiu se identificar com o nome fictício de Maria das Dores, acusou a polícia de ter executado Jeferson e Renilson. “Eu estava costurando quando ouvi os tiros e foram bem diferentes dos tiros de bandidos. Estou acostumada com isso, eram tiros de fuzis”, garante. “Estamos fartos de sermos tratados, aqui, como bandidos”, disse o agente de saúde Marcelo Júnior Matos, 27 anos.
Os quatro policiais envolvidos no tiroteio foram ouvidos pelo delegado de plantão Fausto Eustáquio Ferraz, no Departamento de Investigações (DI), no Bairro Lagoinha. Dois revólveres calibre 32 apreendidos, além de munição, incluindo cartuchos exclusivos das Forças Armadas e da Polícia Federal também foram entregues ao delegado.
“Eu seria hipócrita de simular uma ocorrência como essa. Conversei com o Denilson, e ele entendeu o que aconteceu”, disse o tenente Santana, na porta do DI, enquanto aguardava o depoimento dos quatro policiais.
No sábado, a assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que as apurações a cargo do delegado Ferraz serão encaminhadas para abertura de inquérito na Justiça Militar.
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