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19/05/2012

Exploração sexual de crianças cresce em Minas

O Estado, que era o quarto no ranking brasileiro desse tipo de crime nas BRs, passa a ocupar agora a primeira posição


leonardomorais
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Adolescente à beira da BR-116, a Rio-Bahia: rodovia tem o 2º maior número de pontos de prostituição


Minas Gerais tem um ponto de exploração sexual de crianças e adolescentes a cada 30 quilômetros de rodovias federais. O Estado, que era o quarto no ranking brasileiro desse tipo de crime nas BRs, passa a ocupar agora a primeira posição. O dado, divulgado ontem pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), revela que o número de locais onde ocorrem abusos contra menores de idade em Minas cresceu 89,47%, passando de 133 em 2009 e 2010 para 252 em 2011 e 2012, em uma malha de 7.689 quilômetros de rodovias federais.

Ao contrário do que ocorreu em território mineiro, a quantidade de pontos, no Brasil, sofreu uma pequena queda, passando de 1.820 para 1.776. A diferença é de menos 2,42%. Pará, Goiás, Santa Catarina e Mato Grosso formam, com Minas, o bloco dos cinco estados com mais locais de exploração sexual de crianças e adolescentes.

Para a subsecretária de Direitos Humanos da Secretaria de Desenvolvimento Social de Minas, Carmen Rocha, o maior registro de locais nas BRs mineiras não quer dizer, necessariamente, que houve aumento da violência.

“Esse tipo de dado ainda é subnotificado e não temos como saber se o ponto que passou a fazer parte do levantamento já existia ou não em 2009 e 2010”, diz.

Para Carmen Rocha, o que houve foi um aumento das denúncias. “A maior visibilidade do tema, o esclarecimento das pessoas e a conscientização de que é preciso denunciar podem ter relação com esse crescimento”, avalia.

O Estado, porém, pode ter mais pontos de exploração do que os mapeados pela PRF, já que muita gente ainda prefere o caminho da omissão. Especialistas apontam que apenas 10% dos crimes sexuais contra menores são denunciados. A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia, criada na Câmara Federal, estima que haja uma subnotificação de 90% dos casos.


A subsecretária Carmen Rocha prefere não fazer essa relação direta, mas confirma que a omissão acaba impedindo a descoberta do crime. “Não temos estatísticas para saber exatamente de que forma a exploração acontece. O que podemos afirmar é que a visibilidade das campanhas de combate ao abuso tem ajudado a trazer à tona esse tipo de caso”.


As ações do governo para a prevenção e o combate à prática vêm sendo feitas em conjunto com a PRF. Os parceiros principais nessa luta são os caminhoneiros, que muitas vezes têm acesso aos locais e podem propagar a campanha. Por isso, eles foram alvo de uma panfletagem, ontem, na BR-040, em frente à Ceasa, para marcar o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.


Apesar dos esforços, não são apenas os pontos nas BRs mineiras que estão aumentando. O recolhimento de menores de idade nas estradas também cresceu. De acordo com a PRF, em 2010, 48 foram retirados das rodovias federais mineiras e, em 2011, o número passou para 58, 18,3% a mais. Apenas nos três primeiros meses deste ano, 11 foram recolhidos das estradas em Minas.


Dentre as rodovias federais de todo o país com o maior número de pontos onde ocorre violência sexual contra crianças e adolescentes, a BR-116 (Rio-Bahia), que passa pelo Norte de Minas, ocupa a segunda posição. De acordo com a PRF, 166 desses locais estão na rodovia, apenas um ponto atrás da BR-230, que corta as regiões Norte e Nordeste do país. A maioria desses “endereços”, 186, fica na área rural dos estados do Sudeste, contra 172 na área urbana.

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Programa aos 12 anos de idade

GOVERNADOR VALADARES – É às margens da BR-381 que meninas com idade entre 12 e 17 anos trocam o corpo por dinheiro, no Vale do Rio Doce. Moradoras de Periquito e Naque –municípios que, juntos, não têm mais de 14 mil habitantes–, elas se prostituem para “sobreviver”. Algumas chegam a vender drogas para motoristas, enquanto esperam por clientes para programas na boleia de caminhões ou junto ao asfalto.


As prefeituras alegam não ter estrutura nem políticas públicas específicas para enfrentar o problema. A presidente do Conselho Tutelar de Periquito, Neide Luíza de Jesus Rodrigues, diz que o órgão realiza blitze na rodovia na tentativa de coibir a exploração sexual das adolescentes, mas afirma que as próprias jovens se articulam para “despistar” as autoridades.

“As garotas que são de Periquito vão para Naque, a 12 quilômetros de distância, e as de lá vêm para cá. Fazem isso para confundir a gente, mas a nossa atuação vale para todas”, afirma Neide. Quando flagradas em busca de fregueses, as menores são levadas para casa, e os conselheiros dão orientações aos pais.
O procedimento, porém, não impede a reincidência. “O problema é social. Muitas famílias perderam o referencial de tudo, os valores, e estão completamente desestruturadas”, diz a conselheira Maria do Rosário Borges Santana Alves.


Aos 16 anos, A.S., é uma “velha” conhecida de caminhoneiros e viajantes que passam pelo perímetro urbano da BR-381, em Naque. Desde os 13, ela usa um decote ousado e um short curto para atrair clientes. Eles pagam, em média, R$ 20 por “encontros” de 30 minutos. O dinheiro conseguido com até quatro programas por noite é usado para comprar maconha e roupas. “Não tenho vergonha do que faço. Recebo para isso”, diz a jovem.

“Só a conscientização dos motoristas e caminhoneiros vai ajudar a reduzir esse problema. A prostituição de menores, por aqui, é encarada como uma forma de trabalho infantil”, lamenta a presidente do Conselho Tutelar de Periquito. (Por Ana Lúcia Gonçalves e Daniel Antunes, da sucursal de Governador Valadares)

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Tags:  prostituição, explorção sexual de menores, estradas feredarais, Minas Gerais

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